segunda-feira, 30 de maio de 2011

Sou Aquariana (:

Quando estão amando (veja bem, eu disse a-man-do mesmo) as aquarianas são extremamente fiéis. Pode confiar. Bem, mas não vivemos num mundo perfeito né verdade? Compensando sua dedicação, a aquariana é dotada de um alheamento e falta de emoção em relação às pessoas, que é de se apostar todas as suas fichas como ela não está tão afim de você. Mas ela está. Basta deixar que ela se envolva com sua deliciosa lista de 6 bilhões de assuntos que ela precisa pesquisar e descobrir. Bem como seus outros 6 bilhões de amigos (um em cada canto do universo). O maior erro que você poderia cometer na sua vida seria amarrar os pés das discípulas do vento, ao pé de uma cama.
Acostume-se. Passe a encarar com naturalidade o fato de que ela pratica capoeira, lê livros em cima da árvore (não embaixo), e decide passar as férias trabalhando como voluntária da Cruz Vermelha. Lembra quando você a viu na TV amarrada na árvore que iam derrubar? Pois então. Ache normal. Ela é a única por onde passa a idéia de perseguir uma estrela cadente, enquanto todos os outros estão concentrados em realizar pedidos. E olha que eu ainda não cheguei no principal.
A aquariana não pertence a ninguém porque ela é de domínio público. Elas insistem e precisam ser livres. No entanto, a pessoa que aceita os seus termos, terá sua profunda admiração e devotamento. Ela sabe que não é fácil.
Devo dizer que paixão realmente não é o forte delas. Passam longe do que são as mulheres de escorpião. Serão como borboletas, imprevisíveis, vivendo de acordo com seu próprio código, em sua trajetória singular. No fim da história, ela sofre de um medo secreto de se apaixonar demasiadamente por alguém e acabar negligenciando o mundo e todas as outras pessoas que precisam dela, e vice-versa. Basta dizer que ela é a esposa perfeita para um piloto de avião.
Seu temperamento, bem como o amor que dedica, é definidamente impessoal. A aquariana ama mais a humaninade do que o ser humano. Então elas não demonstram o que estão sentindo muito facilmente. As palavras com as quais elas expressam o seu amor são frustrantemente limitadas. Ela pode ser como um flamingo posudo e elegante nas mais diversas situações, mas em matéria de amor ela se transforma num ogro estabanado. É muito comum que ela viva confundindo amor e amizade tamanho seu desligamento com questões de espécies mais quentes, digamos assim. Há muita coisa linda e maravilhosa pra se ver por ai do que sua cara todos os dias.
É dificil, eu sei. Mas se você está apaixonado por uma mulher dessas há de reconhecer: nunca você acreditou tanto em mágica como acredita agora. É nítido como as aquarianas realmente se destacam, não pelo brilho como as leoninas, pelo sucesso como as capricornianas ou pelo apelo irresistível das mulheres de escorpião. As aquarianas são a cereja do bolo simplesmente porque elas não fazem parte daquele lugar.
Ela é internacional, onde quer que ela esteja.
Não é ótimo? Você pode ter um produto importado, que prevê o futuro, sabe de tudo que está acontecendo e que ainda te ama nos dias em que você se sente menos amado. Tudo isso pelo preço de você não ser tão conservador e reservar sempre uma boa mente aberta.
Eu queria. Você não?

O amor é punk.



 




Eu já passei da idade de ter um tipo físico de homem ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse estranho (bem estranho). Tivesse um figurino perturbado. Gostasse de rock mais que tudo. Tivesse no mínimo um piercing (e uma tatuagem gigante). Soubesse tocar algum instrumento. E usasse All Star. Uma coisa meio Dave Grohl.

Hoje em dia eu continuo insistindo no quesito All Star e rock´n roll, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas.

Engraçado que quando a gente pára de acreditar em “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece o cara. Começa, aos poucos, a admirá-lo. A achá-lo FODA.

E, quando vê, você tá fazendo coraçãozinho com a mão igual uma pangaré. (E escrevendo textos no blog para que ele entenda uma coisa: dessa vez, meu caro, é DIFERENTE).

Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ele vai esquecer todo mês o aniversário de namoro, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu pão-de-sal bem branco (e com muito queijo). Ele não vai fazer declarações românticas e jantares à luz de vela, mas vai saber que você está de TPM no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez.

Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. DA PAIXÃO, NÃO. Depois de anos escrevendo sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. EU QUERO ALGUÉM QUE DIVIDA O CHÃO COMIGO.

QUERO ALGUÉM QUE ME TRAGA FÔLEGO. Entenderam? Quero dormir abraçada sem susto.

Quero acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas.

Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e meus futuros livros iriam pra seção B da auto-ajuda, com um monte de margaridinhas na capa. Mas, CARAMBA! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, no meu caso, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade.

Antes era uma procura por mim mesma que não tinha acontecido.

Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrões. Amor é RECONSTRUÇÃO. É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios.

Demorei anos pra concordar com meu querido (e sempre citado) Cazuza: “eu quero um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”.

Antes, ao ouvir essa música, eu sempre pensava (e não dizia): porra, que tédio!

Ah, Cazuza! Ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar - ah, o amor! - AMAR É PUNK.


Fernanda Mello.


(L)

sábado, 28 de maio de 2011

A história do homem que espanta palavras.


 


E eu nunca fiz um texto bonito pra você,isso me doeu até hoje,mas...chegou o dia.
É difícil escrever pro homem amado,porque quando se trata daquele carinha,as palavras saem correndo e nem olham pra trás.
O homem amado é aquele que chegou pra tirar do foco o seu pai herói,o Ken,o Jared Leto,o Johnny Depp,e o príncipe da Cinderela,é aquele homem que chega bem discreto e quando você percebe ele já roubou seu coração há muito tempo.
Quando eu era criança,achava que meu homem amado seria moreno,alto,com um cabelo de príncipe e com um sorriso aberto,achei que esse homem seria o meu marido e que ele me conheceria com dez anos de idade.
O meu homem amado não é alto,nem moreno,nem tem cabelo de príncipe e muito menos um sorriso aberto,ele me conheceu três anos depois dos dez,e até hoje não sou sua esposa,será que um dia viro?
O meu homem amado é discreto até nos momentos que não precisa,nos nossos momentos.Ele não fala muito de si,não conta muita vantagem,ele só observa,só ri,ele me olha e ri,e ele é a única pessoa no mundo que eu quero fazer rir.Ele ouve todas as minhas lorotas,ouve todos os meus sonhos,planos,e com ele eu aprendi a não falar mal das pessoas,quer dizer...estou aprendendo.
A batata do meu homem amado é desenhada por Deus,é bem branquinha e é sempre quente,parece que ela foi feita pra esquentar meu pé que vive gelado.Os braços do meu homem amado não são musculosos,mas são neles que eu me sinto a menina mais feliz do mundo,meu homem amado sempre me abraçou forte,como quem quisesse  fazer parte de mim.As mãos do meu homem amado são lindas,suas unhas tem a forma circulada de toda a perfeição,ele quase não tem cutícula e toda essa beleza vem acompanhada de dedos tortos,porque Deus sabia que eu não iria gostar de mãos totalmente perfeitas,Ele sabia que precisava de um defeito pra eu achar charmoso.
O meu homem amado tem três sorrisos,e três olhares,tem dentes bonitos e tem as coxas mais gostosas do universo.
O meu homem amado entrou de forma errada na minha vida,ilegal na lei dos corações,e por muitas vezes eu desejei não o conhecer,porque como todo homem amado,ele me fez sofrer.Mas tanto amor,tanta entrega,tanta pureza,tanta intimidade não podia ser desperdiçada,era preciso ser vivida e entregue ao dono de tanto sentimento.
E o meu homem amado acredita que eu não o amo,mesmo eu estando aqui,dura,reta,sozinha,sempre...às suas ordens,mesmo eu não evoluindo,pra ele nunca errar o caminho onde possa me encontrar.
E eu nunca,em todos esse anos consegui amar outro homem,nunca consegui ser tão fiel à outro homem,porque você,homem amado,me tem em suas mãos desde o primeiro momento que eu te vi,entrando por uma porta enorme,numa igreja verde,com uma camiseta linda que contrastava com sua pele.
E meu desejo é fazer as maiores loucuras com você,é fugir com você,dançar sem música,dormir com você,ser sua.Meu sonho é que a Cecília tenha vinte e três cromossomos seus e tenha seus olhos,que são lindos.
E você continua me cortando,me fazendo chorar,me esquecendo nas nossas ruas,e eu continuo te esperando,te lembrando que eu existo e estou aqui pra você...por você,porque depois que você apareceu eu quis virar uma Amélia,uma princesa,uma mulher,uma menina,eu quis te encher de beijos e ser carinhosa pro resto da vida,depois que eu descobri que era você,eu quis bordar uma toalha com seu nome,fazer bolo de chocolate,decorar Adélia Prado,ter seu sobre nome no meu registro e até fazer "potinha" eu quis.
"...Eu te amo homem,hoje como toda vida quis,e não sabia..." (Adélia Prado)


Maria Clara Araújo.

domingo, 22 de maio de 2011







Combinamos que não era amor e realmente não é. Mas esse algo que é, é realmente muito libertador. Porque quando você está aqui, ou até mesmo na sua ausência, o resto todo vira uma grande comédia. E aquele cara mais novo, e aquele outro mais velho, e aquele outro que escreve, e aquele outro que faz filme, e aquele outro divertido, e aquele outro da festa, e aquele outro amigo daquele outro. E todos aqueles outros viram formiguinhas de nariz vermelho. E eu tenho vontade de ligar pra todos eles e falar: putz, cara, e você acha mesmo que eu gostei de você? Coitado.
Adoro como o mundo fica coitado, fica quase, fica de mentira, quando não é você. Porque esses coitados todos só serviram pra me lembrar o quão sagrado é não querer tomar banho depois. O quão sagrado é ser absurdamente feliz mesmo sabendo a dor que vem depois. O quão sagrado é ver pureza em tudo o que você faz, ainda que você faça tudo sendo um grande safado. O quão sagrado é abrir mão de evoluir só porque andar pra trás é poder cruzar com você de novo
.

Não é amor não. É mais que isso, é mais que amor. Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por você, eu tive que não morrer. Porque pra ter você por perto um pouco, eu tive que não querer mais ter você por perto pra sempre.
E eu soquei meu coração até ele diminuir. Só pra você nunca se assustar com o tamanho. E eu tive que me fantasiar de puta, só pra ter você aqui dentro sem medo. Medo de destruir mais uma vez esse amor tão santo, tão virgem. E eu vou continuar me fantasiando de não amor, só pra você poder me vestir e sair por aí com sua casca de não amor.
E eu vou rir quando você me contar das suas meninas, e eu vou continuar dizendo “bonito carro, boa balada, boa idéia, bonita cor, bonito sapato”. E eu vou continuar sendo só daqui pra fora. Porque no nosso contrato, tomamos cuidado em escrever com letras maiúsculas: não existe ninguém aqui dentro.
Mas quando, de vez em quando, o seu ninguém colocar ali, meio sem querer, a mão no meu joelho, só para me enganar que você é meu dono. Só para enganar o cara da mesa ao lado que você é meu dono. Eu vou deixar. Vai que um dia você acredita.




Tati Bernandii

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O errado que deu certo.


 




Depois de tantas chances perdidas,de tantas histórias mal contadas,mal vividas,mal escritas,depois de tantas lágrimas,de tanta confusão,de tanta falta de amor próprio...eu encontrei o cara errado.
O cara errado sempre é legal,sempre aparece do nada,e você pode até já o conhecer,mas você nunca vai imaginar que ele é o "prometido" que vai fazer seu coração acelerar.
O cara errado nem sempre é bonito,afinal,você nunca sonharia que seu príncipe fosse feio,e como eu disse,o cara errado é inesperado.Ele chega cheio de gentilezas,com tempo integral e exclusivo pra você,te cobre de elogios,te faz rir uma noite inteira,e não adianta,se você foi dormir as seis horas da manhã,não foi por causa do café que você tomou a noite inteira,não existe café no mundo capaz de te fazer tão viva uma madrugada inteira,seja mulher e assuma:você encontrou o cara que nunca te deixa sem assunto.
O cara errado não é o DJ que vai te apresentar todas as músicas estranhas do mundo,nem o cineasta que vai ver com você os clássicos da década de 50,muito menos o escritor que vai fazer você ler os maiores e melhores romances da literatura contemporânea.Mas o cara errado nasceu para que,junto com VOCÊ,ele viva uma música do Chico,te faça ser uma Julia Roberts em "Uma Linda Mulher",e viva com você uma história de Shakespeare.
O cara errado,é TODO errado,ele faz coisas que você detesta,ele tem manias irritantes,tem um jeito meio rural de ser,e não vai ser o cara que te manda flores no dia seguinte.Mas o cara errado é de verdade,é natural,é simples,é AUTÊNTICO,ele vai te beijar pra acabar com uma briga,ele vai brigar com você quando você fizer drama demais,e vai ter muita paciência com a sua mania de rir toda vez que o beija.
O cara errado,vai se tornar o cara certo depois que te conhecer,ele vai descobrir todas as músicas que você gosta,vai assistir trezentos filmes com você numa tarde de domingo,vai parar de ir para as boates da cidade,pra ir para o parque com você,vai ter muita paciência com seus atrasos e com o seu celular que vive desligado.
O cara errado quer casar com você,te acha linda mesmo você sendo uma formiguinha de tão pequena,te respeita,e te espera.
Não adianta fugir do cara errado,porque depois de um tempo você percebe que sem ele nada é certo.


Maria Clara Araújo

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Um você para mim.



 






E hoje eu descobri o porque do fascínio por ele,sou afim dele justamente porque ele não faz meu tipo,e o que me encanta nas pessoas é a surpresa que elas causam em mim,gente programada me corrói,me vomita continuamente,eu preciso de pessoas autênticas,de pessoas que erram feio,que me cortem,que me façam sangrar pra eu me sentir bem viva.
Ele não é o carinha tatuado que eu tanto acho charmoso,não é o carinha cult que vai me ensinar a gostar de filme francês,a beber vinho,nem amar o Woody Allen com todas as minhas forças,não é o garoto esportivo que vai me convidar pra uma trilha em uma mata fechada.
E é por tudo isso,que eu o admiro tanto...é porque ele conseguiu fugir da minha imaginação,do meu sonho,da minha expectativa,e da melhor forma possível...ele me surpreendeu!
Ele é o homem mais engraçado do mundo,só de olhar pra ele eu já quero passar uma semana dando as maiores gargalhadas,e eu o amo por isso,por me deixar ser sem graça,eu cansei de ter a obrigação de ser a menina engraçada,e ele me dá férias das piadas constantes.
Ele ao mesmo tempo consegue ser o cara mais mal humorado de todo centro oeste,ele sempre esta com "sangue nos olhos",ele sempre acha que vai dar um ataque de tanto nervosismo,e eu o amo por isso,porque perto dessa raiva toda que ele acha que tem,eu me sinto calma,me sinto leve,ele me dá férias dos meus ódios mortais.
Ele é o homem que usa botas e curte um sertanejo,e eu o amo por isso,porque ele me mostrou que tem competência pra fazer uma menina com um gosto musical tão diferente,gostar de um cara tão "matuto" como ele,ele me dá férias da minha mania de ser pedante.
Ele é o homem que tem o beijo simples e tão,tão,tããão gostoso,e eu também o amo por isso,porque ele me ensinou que beijo é entrega,e entrega não precisa ser cheia de escapulias,beijo é autêntico,ele me deu férias da minha complexidade.
Ele é o homem que eu mais briguei na vida,e apesar das brigas serem fortes,a gente sempre as acabava com uma super risada,ou uma declaração de sentimento bem sutil,ele me dá férias do meu lado boa moça,porque eu também brigo,eu também sou ciumenta,eu também tenho sangue nos olhos.
Ele é o único homem que me chama de doida,de criança,de exagerada,de baixinha e eu só consigo receber esses adjetivos como uma forma de cuidado,de carinho,de me achar uma menina pura e singular.
Ele é o homem que diz que vai casar comigo,que tem medo deu usar ele e depois jogar fora,e eu amo a nossa lealdade,a nossa sintonia,a nossa intimidade,a nossa AFINIDADE,eu te gostei desde o primeiro momento,e eu nunca quero te fazer mal,eu nunca quero perder a confiança em você,eu nunca quero ter que continuar fazendo piadas sem ter você pra me fazer rir no fim do dia.

Maria Clara Araújo

quarta-feira, 18 de maio de 2011


 

Você foi indo embora os poucos da minha vida, e eu preciso agora de um consolo imediato. Eu não sei se sinto a sua falta porque eu não sei mais o que sinto, ficou um buraco. Você tirou de mim tudo o que era nosso e tirou de mim tudo o que era meu, você me tirou do eixo, me tirou do meu fuso, da minha rota. Me tirou de onde eu estava, me tirou de tudo quanto foi lugar que você achou que eu não cabia e eu só fui indo, indo, indo, sendo tirada de cá pra lá, a todo momento, vagando pela vida sem precisar.
Você foi meu por tanto tempo que me dá medo de deixar doer tudo o que eu acho que ainda tem pra secar. E você foi meu por tanto tempo que às vezes parece que tudo foi gasto entre a gente, até a dor e, mesmo quando eu forço ficar triste por obrigação de sentir a sua falta, ela não vem.
Você me conheceu menina, e me viu virar mulher. Você leu todos os meus textos falando de outras pessoas, você esteve presente em todos os momentos da minha vida em que eu achei que só a sua aprovação era importante.  Você enxergou em mim a minha tristeza despedaçada e me falou tantas vezes que você era a cola que ia manter meu castelo de sonhos montado. Mas depois, você montou em cima dos meus sonhos, bloqueando qualquer visão que eu pudesse ter pra eles, me fazendo achar que além do horizonte do seu sorriso não se achava mais nada.
Você viu em mim qualidades que ninguém até então tinha tido sensibilidade de encontrar, você conheceu meus olhos de bom dia e de boa noite, meus olhos de felicidade, de saudade e de tristeza, você conheceu minha boca que se comprime quando a vida discorda comigo e eu não acho outra saída a não ser amarrar o choro no bico. Você me deixou te ver por debaixo da armadura que todo mundo conhece, você deitou tanto comigo em tantos lugares que aquela sua perna pesada que bloqueava a minha circulação toda santa noite virou minha perna também e, depois de um tempo, nem meu sangue ligava mais de ter o seu destino bloqueado por você.
Você me amou tanto que, mesmo sem poder me amar direito, não queria me deixar ir e foi matando nosso amor aos poucos, usando contra mim todas as coisas que um dia foram tudo o que eu ofereci de encantador a você. Você puxou todos os meus limites e me fez descobrir partes de mim que eu não sabia que existiam, você trouxe o melhor e o pior, trouxe aquela sensação de frio na barriga eterno, de ansiedade constante, de não saber se vai ser possível respirar até o pulmão encher porque, antes mesmo do final do respiro já se sente falta de ar.
Você foi meu de verdade, foi meu com tudo, foi meu de noite até de dia por todos os dias de todos esses anos que eu vivi você mais do que vivi comigo. Por todos os dias que eu acordei de manhã e precisava saber do quê você precisava, antes de eu me lembrar que eu também era uma pessoa e também precisava de tantas coisas.
E eu fui embora porque por mais que eu tentasse, por mais que eu chorasse, rezasse, desejasse, implorasse, suplicasse, abaixasse, ajoelhasse, gritasse, sussurrasse e pensasse, eu percebi que a minha necessidade de você nunca seria suprida já que, de alguma maneira que até agora eu não sei, você me roubou de mim e a minha busca era sem fim porque não era certeira.
E pela primeira vez em muitos anos eu entendi que eu estava precisando de mim, não de você.
E mesmo enquanto eu me ajoelho e reúno do chão os pedaços de mim, não posso negar que muitos deles são completamente seus. A gente se bagunçou tanto que só a música do Chico consegue explicar a minha sensação de ter o seu paletó enlaçado no meu vestido aonde quer que eu vá. Você vai pra sempre fazer parte do que está em mim e, mesmo com olhos céticos, tudo o que a gente teve de tão bonito nunca vai mudar.
‘Só amor não adianta’, a gente repetiu tantas vezes. E eu precisei não poder mais enxergar você na minha vida que era pra ver se, assim, eu conseguia começar qualquer frase, qualquer conversa, qualquer pensamento e qualquer texto com alguma outra palavra que não ‘você’.
E o meu discurso antigo (que é seu) diria com a sua voz  (da qual conheço todos os tons) que pra mim o nosso amor não passou de um monte de experiências exageradas pra virar, no final, um texto bonito.
Eu, entretanto, discordo. Pra mim o nosso amor foi verdadeiro e é uma pena que ele termine assim, reunido num monte de palavras tristes no chão, sem cola.
O meu castelo desabou e eu preferi reconstruir meu mundo sem você. Por escolha, não por falta de amor.
Rani Ghazzaoui

domingo, 15 de maio de 2011

Amor Também morre de saudades, sabia?


 




Começou assim: eu subi as escadas e lá estava você, querendo parecer jovem com uma camiseta brega manchada de pasta de dente. Eu caí da escada e demorei anos pra me levantar. Eu te amava com uma mistura de todos os meus personagens e, por isso, tão intensamente. Eu era uma menina deslumbrada que amava ver suas invenções por aí, era uma menina carente que amava seu jeito de pai, uma mulher em formação que se formou com você, uma depressiva neurótica que precisava das suas piadas que deixavam tudo leve, até sua ausência e impossibilidade eu amava com toda a minha vontade de grudar em você pra sempre. Até que cheguei ao ponto de te amar sei lá por que, o que deve ser o verdadeiro amor.Um dia seu cheiro começou a me dar um azedo na alma. Seu jeito, uma preguiça de me encantar. Suas palavras, um zumbido chato que me animava a prestar atenção em outra coisa. Era o instinto me dizendo que não dava mais pra sofrer. Amor também morre de saudade, sabia? E eu tinha saudade de te amar pura. Depois de levantar duzentas vezes e ir para o canto do ringue, cuspir sangue e ouvir a torcida dentro do meu coração gritar pedindo mais, eu fui a nocaute.Você sabia melhor do que ninguém que a felicidade me esmagava e eu ficava ainda mais carente quando ganhava carinho. Por isso você era em doses homeopáticas a pessoa mais carinhosa do mundo e também o ser mais frio do planeta. Muito em pouco, o máximo no mínimo, quase nunca pra sempre, nunca mais todos os dias. Mas agora você se distrai com as três passagens que comprou: uma para você e duas para a sua nova namoradinha, que é tão agraciada com culotes que precisa de dois lugares no avião.Não é inveja, nem ciúme, nem dor, é cansaço dessa vida banal que me arrota na cara toda vez que eu engulo ar para aumentar ainda mais a minha intensidade. Por que as pessoas são assim tão esquecíveis e passageiras? Por que planejar uma agenda de motivos para não ser de alguém com medo de se perder?


Tati Bernardi.

seu nome é SAUDADE.





 


Embaixo das suas mil camadas de interesses por tudo. Embaixo das mil peles de ansiedade. Existe o menino que nunca tiro do coração. Saudade.
Banshee Beat é a música mais linda dessa tarde. E você o menino que nunca tiro do coração. Saudade.
Você achando que sentíamos igual por causa do beijo profundo e do olhar dolorido. Você é o menino que nunca tiro do coração. Saudade. Você querendo tirar foto da minha sala. Como se viver fosse o seu turismo eterno. Você sanduíche e eu uma carne de minhocas apaixonadas.
Você fazendo a dança do “levar o lixo lá fora” e eu deixando você ver como tenho medo de gostar. Você é o menino que não tiro do coração. Você querendo mandar fósforo pra queimar o presente que tinha acabado de mandar. Todas as suas grosserias e erros chegam sempre com graça.
Você me ligando de madrugada. “Vou te processar se você escrever sobre mim”. Eu querendo escrever no céu, no peito de Deus, no meu fígado.
Você indo embora dizendo não saber gostar só de mim. Eu pensando apenas que roupa colocaria pra quando você voltasse. O amor corre separado.
Você longe de mim por país, por peito, por intenções. E nas músicas, nos livros, nas piadas de youtube, na pele dos outros, na minha ilusão. Você tocando alto o violão, fugindo da foto pra fazer o efeito borrado, me roubando da fila da livraria para um cantinho. Você pra sempre.
Em todo espaço, em todo branco, em todo homem, você é o menino que não tiro do coração. Errado, distante, esquecido, apagado e pra sempre.
Você me dizendo “não vou te fazer esperar, mas um dia…” Você a desgraça boazinha. Você o “um dia” que não foi quando o dia chegou.
Ouço você através de tudo o que é bonito. Toco você em tudo que peço socorro ou só rotina. Você o menino que nunca tiro do coração.
Pode ir pra longe, em paz, com ela, sem mim. Mas não esqueça que são 92 mil pessoas seguindo esse amor. E esse amor imenso é todo pra você.


 Tati Bernardi. *-*

segunda-feira, 9 de maio de 2011




 


Em algum momento, em vários deles ou definitivamente, as pessoas sempre vão embora. Talvez essa seja a pior coisa do mundo.
Ele vai embora, sempre, quando eu preciso de quinze minutos de silêncio complementar à minha entrega, odeio o desespero dele por banhos e a sua ansiedade curiosa pelo que vem depois. Que se dane o depois, eu sou agora, ou pelo menos era.
Ele vai embora, sempre, quando o parágrafo passa de três linhas, o pensamento dele ultrapassa meus olhos, o som se perde da minha boca para qualquer outro canto do mundo que não tenha seus ouvidos e ele olha fixamente para qualquer outra coisa que não seja a minha existência. Sempre a mesma cara de tédio e de busca pelo resto que não se repete ou não se prolonga.
Ele sempre vai embora quando eu queria que ele se perdesse um pouco, rasgasse a camisa, lançasse o celular no rio, desligasse todos os toques, luzes e sinais de que há todo o resto. Esquecesse do sono, do livro, da casa dele, das menininha idiota. Ele sempre vai embora do meu mundo quando eu só queria que ele descansasse um pouco de ser ele o tempo todo, mas ele tem muito medo de não ser ele, talvez porque ele não saiba o que ele é.
Ele sempre vai embora pra descobrir quem ele é, ou para lembrar que ele é o mesmo de sempre que não sabe quem é, ele sempre vai embora antes da gente ser alguma coisa juntos.
Vivo com essa sensação de abandono, de falta, de pouco, de metade. Mas nada disso é novidade. Antes dele, teve o outro, o outro que continua indo embora para sempre porque nunca foi embora pra sempre. Eu não sei deixar ninguém partir, eu não sei escolher, excluir, deletar. São as pessoas que resolvem me deixar, melhor assim, adoro não ser responsável por absolutamente nada, odeio o peso que uma despedida eterna causa em mim. Nada é eterno, não quero brincar de Deus.
O outro foi embora a primeira vez porque estava bêbado demais, foi embora a segunda porque ficou tarde, foi embora a terceira porque teve medo de ficar pra sempre, foi embora durante alguns longos anos porque todo o resto do mundo precisava dele e eu era apenas uma das demandas. Ele me chamou de demanda a última vez que foi embora pra sempre, mas pra sempre pode durar duas horas, dois anos ou duas encarnações. A gente sempre se despede lembrando da música do Chico que diz “o amor não tem pressa, ele sabe esperar em silêncio”.
Antes dele teve ainda um outro que sempre ia embora na espera de que existisse algo melhor do que eu, mas não ia definitivamente porque não é todo dia que aparece alguém melhor do que eu. Um dia apareceu, ela até que é bonita e tal, não parece tão confusa e intensa e talvez mediocridade seja tudo de que uma pessoa precise para ser feliz. Mas a última vez que ele foi embora, antes me deu um abraço de quem nunca saiu do mesmo lugar. O abraço e o seu olhar de quem nunca sabe direito porque vai embora ficaram pra sempre comigo.
Hoje meu novo velho amigo foi embora, não pra sempre, mas um segundo pode ser pra sempre se pensarmos grandiosamente, e ele me dá vontade de pensar grandiosamente. Fazia tempo que alguém não ficava tão calado enquanto eu apenas existo, fazia tempo que alguém não ficava tão perdido só porque me encontrou, fazia tempo que eu não me olhava no espelho e sorria, sabendo que sim, sim, sim, sou bonita ora bolas! Sou interessante! Da onde eu tinha tirado o contrário nos últimos meses?
Todo mundo chega na sua vida. Em algum momento, em vários deles ou definitivamente, as pessoas sempre chegam. Talvez essa seja a melhor coisa do mundo.
Como naquele texto que não lembro, daquela pessoa que não lembro, e sobre o qual você me contou de um jeito que eu nunca mais vou esquecer, no final a gente acaba mesmo numa esquina qualquer, lembrando de alguém que um dia chegou e depois foi embora, perplexo.

Tati Bernardi_adaptado

domingo, 8 de maio de 2011

Depois que você me mandou limpar os óculos.


 






A mesa rodava, as luzes insistiam, os barulhos iam cessando como um prêmio e as pessoas tentavam me aquecer. Eu sabia que estava sendo amada, talvez como nunca em toda a minha vida. Mas só tinha olhos para os pêlos do seu braço. Eu olhava como quem não olha e me dizia baixinho: olha eles lá, olha lá os pêlos que eu tanto amo sem mais e sem fim.

Matei finalmente a saudade do seu dedão. Seu dedão meio largo, meio torto, com a unha que preenche todo o dedão. Eu amo o seu dedão, amo sua unha meio roxa, amo a semicircunferência branca que sai da sua cutícula e vai até o meio da sua unha, amo a sua mão delicada que sai de um braço firme. Amo que os pêlos da sua mão pareçam meio penteados de lado.

É isso, sei lá, mas acho que amo você. Amo de todas as maneiras possíveis. Sem pressa, como se só saber que você existe já me bastasse. Sem peito, como se só existisse você no mundo e eu pudesse morrer sem o seu ar. Sem idade, porque a mesma vontade que eu tenho de te comer no banheiro eu tenho de passear de mãos dadas com você empurrando nossos bisnetos.

E por fim te amo até sem amor, como se isso tudo fosse tão grande, tão grande, tão absurdo, que quase não é. Eu te amo de um jeito tão impossível que é como se eu nem te amasse. E aí eu desencano desse amor, de tanto que eu encano.

Ninguém acredita na gente: nenhum cartomante, nenhum pai-de-santo, nenhuma terapeuta, nenhum parente, nenhum amigo, nenhum e-mail, nenhuma mensagem de texto, nenhum rastro, nenhuma reza, nenhuma fofoca e, principalmente (ou infelizmente): nem você.

Mas eu te amo também do jeito mais óbvio de todos: eu te amo burra. Estúpida. Cega. E eu acredito na gente. Eu acredito que ainda vou voltar a pisar naqueles cocôs da sua rua, naquelas pocinhas da sua rua, naquelas florzinhas amarelas da sua rua, naquele cheiro de família bacana e limpinha da sua rua. Como eu queria dobrar aquela esquininha com você, de mãos dadas com os pêlos penteados de lado da sua mão.

Outro dia me peguei pensando que entre dobrar aquela esquininha da sua rua e ganhar na mega-sena acumulada, eu preferia a esquininha. A esquininha que você dobrou quando saiu da casa dos seus pais, a esquininha que você dobrou chorando, porque é mesmo o cúmulo alguém não te amar. A esquininha que você dobrou a vida inteira, indo para a faculdade, para a casa dos seus amigos, para a praia. Eu amo a sua esquininha, eu amo a sua vida e eu amo tudo o que é seu. 
Amo você, mesmo sem você me amar. Amo seus rompantes em me devorar com os olhos e amo o nada que sempre vem depois disso. Amo seu nada, apenas porque o seu nada também é seu.
Amo tanto, tanto, tanto, que te deixo em paz. Deixo você se virando sozinho, se dobrando sozinho. Virando e dobrando a sua esquininha. Afinal, por ela você também passou quando não me quis mais, quando não quis mais a minha mão pequena querendo ser embalsamada eternamente ao seu lado.


Tati Bernardi.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mulher Perdigueira


 


Não sou favorável à indiferença, à independência, ao casamento sartreano. Fui criado para fazer um puxadinho, agregar família, reunir dissidentes, explodir em verdades. Duas casas diferentes já é viagem, não me serve.
Aspiro ao casamento pirandelliano, um à procura permanente do outro. Sou um totalitário na paixão. Um tirano. Um ditador. Não me dê poder que escravizo. Não me dê espaço que cultivo. Não me eleja democraticamente que mudo a constituição e emendo os mandatos.
Quero uma mulher perdigueira, possessiva, que me ligue a cada quinze minutos para contar de uma ideia ou de uma nova invenção para salvar as finanças, quero uma mulher que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu. Que seja escandalosa na briga e me amaldiçoe se abandoná-la. Que faça trabalhos em terreiro para me assustar e me banhe de noite com o sal grosso de sua nudez. Que feche meu corpo quando sair de casa, que descosture meu corpo quando voltar. Que brigue pelo meu excesso de compromissos, que me fale barbaridades sob pressão e ternuras delicadíssimas ao despertar. Que peça desculpa depois do desespero e me beije chorando.
A mulher que ninguém quer, eu quero. Contraditória, incoerente, descabida. Que me envergonhe para respeitá-la. Que me reconheça para nos fortalecer.
A mulher que não sabe amar recuando e não tolera que eu ame atrasado. Que parcele em dez vezes seu dia, que não pague a conversa à vista na hora do jantar, que não junte suas notícias para contar de noite como um relatório. Admiro os bocados, as porções, as ninharias. Alegria pequena e preciosa de respirar rente ao seu nariz e definir com que roupa vou ao serviço.
O amor é uma comissão de inquérito, é abrir as contas, é grampear o telefone, é cheirar as camisas. É também o perdão, não conseguir dormir sem fazer as pazes.
O amor é cobrança, dor-de-cotovelo, não aceitar uma vida pela metade, não confundi-la com segurança. Exigir mais vontade quando ela se ofereceu inteira. Enlouquecê-la para pentear seus cabelos antes do vento. Enervá-la para que diga que não a entende. E entender menos e precisar mais.
Quem aspira ao conforto que se conserve solteiro. Eu me entrego para dependência. Não há nada mais agradável do que misturar os defeitos com as virtudes e perder as contas na partilha.
Não há nada mais valioso do que trabalhar integralmente para uma história. Não raciocinar outra coisa senão cortejá-la: avisá-la para espiar a lua cheia, recordar do varal quando começa a chover, decorar uma música para surpreendê-la, sublinhar uma frase para guardá-la.
Sou doido, mas doido varrido. Bem limpo. Aprendi a usar furadeira e agora entro fácil em parafuso. Quero uma mulher imatura, que possa adoecer e se recuperar do meu lado. Uma mulher que me provoque quando não estou a fim. Que dance em minhas costas para me reconciliar com o passado. Que me acalme quando estou no fim do filtro. Que me emagreça de ofensas.
Não me interessa um tempo comigo quando posso dividir a eternidade com alguém.
Quero uma mulher que esqueça o nome de seu pai e de sua mãe para nascer em meus olhos. Em todo momento. A toda hora. Incansavelmente. E que eu esteja apaixonado para nunca desmerecê-la, que esteja apaixonado para não diminuí-la aos amigos.

quarta-feira, 4 de maio de 2011



 


Eu não sei guardar coisas. Se eu compro chocolates, como todos no mesmo dia. Se eu compro balas, chicletes, devoro todos em minutos, compulsivamente. Detesto saber que algo me espera, quero acabar logo com aquilo.

Não sei lidar com a responsabilidade da felicidade. A felicidade guardada na bolsa ou na vida. Eu tenho um homem lindo me esperando essa hora, e eu quero com todas as células do meu corpo ir ao encontro dele. Mas eu não sei lidar com tanta felicidade, por isso estou planejando a morte dele.

Estou planejando matá-lo com minha estupidez, quero que ele morra fulminado pelas minhas armas de boicote. Quero que ele perceba o quanto sou chata, ciumenta, louca e doente. E que ele enjoe logo da minha cara abatida de intensidade. Que ele pegue logo bode do meu cansaço em viver tanto, porque vivo muito mesmo quando estou deitada olhando para um ponto fixo.
É tão cansativo ser eu mesma com todos os meus medos e neuroses, e quero que ele sinta o fardo do meu peso. Morra e me liberte dessa alegria incontrolável. Passe desta para uma melhor, porque eu sou um lixo.
Eu lembro daquele conto da Clarice em que a garotinha ruiva guardava os contos para ler depois, porque queria prolongar o mistério da felicidade. Pois eu quero mais é botar fogo em todos os contos de felicidade que a vida escreve para mim, porque por alguma razão maluca a felicidade me escraviza, me paralisa, me faz ficar triste. Eu olho para você e tenho tanta, mas tanta alegria em saber que você existe, que sinto ódio. Ódio de eu não mais esperar por você.

O sentido da minha vida era encontrar você. O motivo para eu seguir adiante nos corredores escuros e bater em portas obscuras, era a sua busca. Agora que você está sentado numa sala clara e óbvia, não preciso mais me enfiar em buracos. Mas os buracos eram a única trilha que eu conhecia.
Você me soltou na atmosfera e eu estou voando. E eu sinto saudades do buraco, da espera, da angústia. Eu sinto falta de olhar triste para o espelho e me sentir metade. Agora que eu tenho você, nem perco mais meu tempo olhando para o espelho, porque só tenho olhos para você. Você me roubou de mim mesma. E eu sou tão ciumenta que estou com ciumes de mim. Você me tirou da minha vida incompleta. E me transformou numa completa idiota. O amor é uma doença. Eu sinto náuseas, febres, dores musculares. Eu acordo assustada no meio da noite. Eu choro à toa.
Eu estava do lado da sujeira, eu era a outra, eu estava por dentro do crime. Você me fez sentir um mundo limpo, verdadeiro e eterno. E esse mundo é tão novo pra mim, que eu te odeio. Que eu estou pequena nele, e preciso de você o tempo todo para me abraçar e dizer que está tudo bem. E quando você não está por perto, eu caio. Porque não sei nada desse mundo de alegrias e coisas bonitas. Você não me deu saída. Você transformou todas as vozes que me davam escapatórias para outros corredores, em sons sem lábia. Minhas saídas perderam as escadas escuras e charmosas, porque você lavou meu chão de imundícies com amaciante Fofo.
Se eu tentar fugir, escorrego no perfume da minha nova vida. A nova vida que não sei viver. A nova vida que quero viver ao seu lado. Ao lado do homem que eu odeio porque nunca amei tanto.
Ao lado da felicidade que eu odeio porque se ela acabar, não sei mais se consigo voltar pra casa. E nem se quero.
Era eu, entende? Era eu que me atracava com o lado errado da vida para estar sempre certa. Era eu a resposta para todas as perguntas que ninguém tem coragem de perguntar. Sim, o mundo é imperfeito, as pessoas traem, o amor não existe, seu marido me come, seu namorado me come, o mundo quer me comer enquanto você borda seu laço cor-de-rosa.

Agora eu estou aqui, inconformada com o seu passado, querendo matar suas lembranças. Com ciumes do seu silêncio porque ele está com você há mais tempo do que eu e eu tenho medo do quanto ele te consome, com ciumes do seu sono porque ele te leva do meu foco.
Com raiva da sua importância porque ela me congela, com raiva do tempo que não dura para sempre quando você me olha sabendo das minhas loucuras e ainda assim me amando. Agora eu estou aqui, querendo que todos os amores do mundo durem para sempre, e que nenês nasçam, e que árvores cresçam e que garoras vagabundas não nos invejem e que os desejos das nossas sombras não nos traia.
Agora eu estou aqui, de quatro, de lingua no chão, te odiando muito, virando a cara, socando você, cuspindo em você, te tratando mal, tudo isso porque não sei lidar com o mundo girando na minha barriga, a tontura do amor, o enjôo do vício em você, a dor do músculo quando me separo.

Pode parecer maluco, mas todas as minhas súplicas para que você desista de mim, é um jeito maluco de pedir que você não desista nunca, pelo amor de Deus.



Tati Bernardi